Embora a gordura seja frequentemente associada à saúde do coração, uma pesquisa recente publicada na revista Nutrientes lança luz sobre sua intrigante conexão com a flora intestinal. Cientistas da Universidade Larval, no Canadá, mergulharam em uma vasta gama de estudos e descobriram que os efeitos da gordura no intestino podem variar drasticamente dependendo do tipo de ácido graxo – o termo técnico para as partículas que compõem as gorduras.
As descobertas revelam que os ácidos graxos insaturados, abundantes em óleos vegetais, tendem a exercer impactos positivos no ecossistema microbiano do nosso intestino. Por outro lado, os ácidos graxos saturados, encontrados principalmente em carnes vermelhas, parecem estar ligados a um desequilíbrio na população de microrganismos que habitam o cólon.
Pesquisas científicas consistentemente demonstram que manter uma proporção saudável de bactérias benéficas em relação às patogênicas é crucial para um sistema imunológico robusto e também para a nossa disposição. Essa influência na saúde mental está intrinsecamente ligada à produção de neurotransmissores – os mensageiros químicos que facilitam a comunicação entre os neurônios – responsáveis pela sensação de bem-estar, como a serotonina.
Embora o aumento do consumo de fibras, provenientes de frutas, verduras, legumes e grãos integrais, seja amplamente reconhecido como a principal estratégia para combater a disbiose – o desequilíbrio da microbiota intestinal –, o estudo canadense ressalta a importância de prestar atenção aos tipos de gordura que ingerimos.
As Moléculas Gordurosas em Detalhe:
Os ácidos graxos saturados são predominantes em fontes de origem animal, como as já mencionadas carnes vermelhas, leite e seus derivados. Surpreendentemente, também podem ser encontrados em alguns óleos vegetais, como os de coco e de palma. Na culinária, essas gorduras tendem a permanecer sólidas em temperatura ambiente, necessitando de calor elevado para se liquefazer.
No organismo, comportam-se de maneira semelhante, o que ajuda a explicar sua associação com o acúmulo de placas nas artérias. Além disso, são frequentemente encontradas em produtos industrializados como biscoitos recheados e salgadinhos.
Além de potencialmente perturbar o equilíbrio da microbiota intestinal, inúmeras pesquisas indicam que o consumo excessivo de gorduras saturadas pode aumentar o risco de doenças cardiovasculares, diabetes e certos tipos de câncer intestinal.
Um estudo abrangente conduzido por pesquisadores de universidades nos Estados Unidos e na Dinamarca analisou dados de mais de 221 mil indivíduos, acompanhados por um período de 33 anos. A pesquisa comparou a ingestão de manteiga – uma rica fonte de gorduras saturadas – com a de óleos vegetais, como os de soja, canola e oliva.
Os resultados sugeriram uma ligação entre o consumo de manteiga e um risco aumentado de desenvolver doenças cardiovasculares e câncer.
"Esses trabalhos reforçam o que já vem sendo estudado há anos", comenta o nutrólogo Celso Cukier, do Hospital Israelita Albert Einstein, enfatizando a recomendação de priorizar alimentos ricos em gorduras insaturadas na dieta.
"Consumir fontes de gorduras monoinsaturadas e poli-insaturadas, dentro de uma dieta equilibrada e variada, é crucial para a saúde geral e, como essa pesquisa indica, também para o nosso humor."
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