"Interromperam Meus Sonhos": Homem é Solto Após 15 Anos Preso por Crime que Não Cometeu
Piracicaba, SP — Em um dos mais chocantes casos de erro judicial do país, Francisco Mairlon Barros Aguiar, 49 anos, está finalmente livre após passar 15 anos na prisão por um triplo homicídio que não cometeu.
A liberdade, concedida pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) na terça-feira (14), expõe uma falha grave no sistema e a luta de um homem para provar sua inocência de dentro de uma cela no Complexo da Papuda, em Brasília.
"Nenhum tipo de reparação vai ser suficiente. Qualquer dinheiro não vai reparar a dor e o sofrimento que passei", desabafou Mairlon, visivelmente emocionado, em sua primeira entrevista em liberdade.
Um Novo Mundo e Sonhos Perdidos

Ao sair da penitenciária na madrugada de quarta-feira (15), Mairlon se deparou com um mundo que mal reconhece. "Tudo isso é novidade pra mim. Na minha época era Orkut e MSN. Não sei nem mexer no celular ainda", confessou, ilustrando o abismo de uma década e meia perdida.
Condenado a 47 anos pelo famoso "Crime da 113 Sul", ele foi implicado unicamente pelas confissões extrajudiciais dos dois assassinos confessos. Anos depois, um deles mudou o depoimento, afirmando que Mairlon não tinha qualquer participação no crime, o que deu início à reviravolta no caso.
O maior desejo de Mairlon agora é reencontrar a família no Ceará e, principalmente, conhecer o filho. "Eu perdi o crescimento do meu filho. Estou ansioso demais para ir ao Ceará e ver ele", disse.
STJ Reconhece "Erro Grave" e Critica Investigação
A decisão da Sexta Turma do STJ foi unânime em anular o processo, determinando a soltura imediata. Os ministros foram duros nas críticas aos métodos de investigação, classificando a condenação como "inadmissível em um Estado Democrático de Direito".
A Corte apontou que a sentença se baseou apenas em elementos do inquérito policial, sem provas produzidas em juízo. O ministro Og Fernandes afirmou que os depoimentos originais não visavam a "busca da verdade, mas quase que uma coação moral".
O caso, impulsionado pela ONG The Innocence Project, se torna um marco na jurisprudência brasileira. Agora, com o processo extinto, Mairlon é um homem inocente, mas carrega as cicatrizes de um erro que lhe roubou 15 anos de vida e o privou de ver seu próprio filho crescer.
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